Sabemos que na atualidade emergem diversos assuntos sobre saúde mental e sofrimento e que a Igreja tem um papel na sociedade diante disso. Mas o que essas temáticas de fato representam para a Igreja? As informações que traremos realmente devem ser consideradas pelo Corpo de Cristo? A Organização Mundial da Saúde (OMS) define saúde como “um estado de completo bem-estar físico, mental e social, e não apenas como a ausência de doença ou enfermidade.” Já a saúde mental tem a ver com o dia a dia, com o estado emocional, as habilidades, com as situações que passamos, sofrimentos, problemas, com os comportamentos que temos e como interagimos socialmente. Nesse sentido, o estado psíquico como um todo é considerado ao lidar com a saúde e seus aspectos.
Observamos os dados obtidos pela agência de distribuição de Bíblias OneHope, que atua em 179 países. Nessa pesquisa, foram contemplados adolescentes de 20 países. Os resultados mostram que, nos últimos 3 meses, mesmo entre os que se consideram cristãos comprometidos, mais de um terço tem problemas com quadros de depressão e ansiedade. Já uma parcela menor de 15% dos entrevistados alegou ter pensamentos suicidas. Poderíamos fingir que as questões de saúde mental e o sofrimento não são uma realidade dentro das nossas Igrejas, mas cada vez mais está visível que não devem ser ignoradas.
Essa pesquisa trata uma parte, lidando apenas com adolescentes, porém não afeta somente essa faixa etária. Ainda que fosse, é uma realidade que não pode ser negada, pois são parte das nossas Igrejas, vistos como a futura geração. Logo, tornam-se alvo das necessidades da Igreja que precisam ser consideradas.
Para a Igreja abordar sobre saúde mental, é importante buscar conhecimento para entender o que é e como ajudar. Existem problemas que são observados na sociedade como um todo que, por vezes, são repetidos dentro das Igrejas. Dentre eles, destacamos os estigmas, que significa reduzir e rotular de modo negativo um indivíduo por alguma característica. Um estigma pode fazer com que a história da pessoa seja vista apenas a partir do seu sofrimento.
Comumente pessoas com alterações de humor, problemas emocionais, limitações nas habilidades sociais e mesmo as que precisam de cuidados e acompanhamentos cotidianos, acabam sendo reduzidas às suas condições e transtornos. O papel da Igreja não é olhar para as pessoas e considerá-las sem valor ou sem possibilidades de crescimento.
Muitas questões emocionais são tratadas como exageros, mentiras ou até mesmo como “alguém querendo chamar atenção”. Pensamentos assim impedem um olhar acolhedor para quem sofre. Por isso, precisamos entender que o sofrimento e as dificuldades humanas existem para todos, cada um de uma maneira, com semelhanças e diferenças.
Como Igreja, somos também o Corpo de Cristo e, para saber como agir frente a essas necessidades, olhamos para Jesus, que é a perfeita expressão do Pai (João 14.9). Logo, separamos uma parábola específica contada por Jesus que ilustra muito bem sobre o cuidado. A parábola do Bom Samaritano (Lucas 10.25-37) é uma narrativa usada para responder o questionamento de quem devemos amar, porém em Sua sabedoria, Jesus responde como agir frente a aqueles que sofrem e nos ensina valiosas lições.
A parábola se trata de um samaritano cuidando de um judeu, povos antagônicos, inimigos. O samaritano sai do seu lugar, sem obrigação, e cuida do judeu ferido sem buscar nada em troca, pelo contrário, entregando o que era seu. Nessa narrativa, aprendemos com Jesus como a Igreja deve atuar. Assim como o bom samaritano, devemos acolher até mesmo aquele que é dito como “sem valor”, para nós alguém que foi estigmatizado em seu sofrimento. O samaritano não ignorou o judeu ou o considerou culpado pelo seu sofrimento. Antes fugiu de desculpas que confortasse a consciência. Não mediu esforços para ajudar aquele que sofria.
A resposta da Igreja é cuidar daqueles que sofrem, cuidar emocionalmente, fisicamente (corpo), espiritualmente e socialmente (comunidade). Assim como fez o bom Samaritano, que sejamos as pessoas a cuidar e ajudar aos que sofrem.
Débora Fernandes Xavier
psicóloga, líder de juventude, equipe Vem
Pra Vida (JBB);
André Felipe da Matta
graduado em Teologia, estudante de
Psicologia, equipe Vem Pra Vida (JBB).