Filipe Martinelli
Membro da Primeira Igreja Batista de Curitiba – PR, formado em Teologia e representante Regional Sul no Conselho da Juventude Batista Brasileira

O olhar de um cristão sobre si mesmo é um aspecto fundamental da fé cristã, pois influencia como ele vive sua vida, interage com os outros e se relaciona com Deus. O apóstolo Paulo, ao escrever a sua epístola aos cristãos em Roma, aborda sobre isso no capítulo 12. Depois de demandar 11 capítulos expondo o Evangelho de Cristo, Paulo inicia o capítulo 12 aplicando todo esse ensinamento, e destaca alguns pontos importantes!

Ele inicia falando sobre o nosso relacionamento com Deus (v. 1-2) e logo em seguida aborda como o nosso olhar para nós mesmos deve ser. Esse tema pode nunca ter sido abordado ou apresentado a você, mas a Palavra de Deus, que é viva, eficaz e poderosa, nos revela uma importante verdade sobre isso. Segundo ele, devemos pensar sobre nós com moderação.

Pensar com moderação ou, em outras versões, com sobriedade, é fundamental ao cristão, e para isso é importante compreendermos algumas verdades:

  1. Todo cristão é um pecador. Compreender isso é necessário não só para a salvação, mas para a vida cristã. O pecado nos nivela, mostrando que não há nenhum justo (Romanos 3.10) e que todos estão destituídos da glória de Deus (Romanos 3.23). Saber dessa verdade e não mentir em relação a isso é necessário, pois a consciência do pecado nos leva à humildade e à dependência da graça transformadora de Deus (I João 1.8-9).
  2. Todo cristão é alcançado pela graça. Assim como o pecado nos nivela com todos, numa categoria de rebeldes, caídos e falhos, àqueles que são alcançados pela maravilhosa graça de Deus recebem a alegria e a bênção da reconciliação em Cristo, bem como do selo do Espírito Santo. Isso é graça, favor imerecido. Isso também nos nivela, pois não podemos nos gloriar em nós mesmos, afinal, é favor, é dom, é dádiva de Deus. Isso levou o apóstolo Paulo a destacar que se fosse para se gloriar, ele iria fazer em Cristo (Romanos 15.17).

Dessa forma, o que Paulo traz para nós é que o nosso olhar deve ser moderado acerca dessas coisas. Mesmo que o pecado nos entristeça, ele não deve nos levar à ruína ou à apostasia, mas aos pés de Cristo. Bem como a graça que nos foi dada, os dons do Espírito, a alegria e a dádiva da salvação não devem nos levar ao lugar da soberba, mas à humildade.

O resultado de um olhar moderado para consigo é a sinceridade, pois aquele que se autoavalia à luz do que o Senhor diz sobre ele é sincero, puro e humilde de coração. Precisamos lembrar que: a sinceridade diante de Deus e consigo mesmo não é para que o ego pessoal seja alimentado, mas para que a vida de um cristão seja frutífera na vida do seu próximo. Cristãos sinceros diante do Senhor e consigo mesmos são sinceros uns com os outros, pois compreendem que a vida não é sobre si, mas sobre amar a Deus e ao seu próximo.

Como bem afirmou Timothy Keller, a essência da humildade resultante do Evangelho não é pensar em mim mesmo como se eu fosse mais, nem pensar em mim mesmo como se eu fosse menos; é pensar menos em mim mesmo (Keller, 2019).

Aqui uma breve e simples lista com pontos importantes sobre o nosso olhar consigo mesmo:

  1. Identidade em Cristo: um cristão é chamado a ver a si mesmo como uma nova criação em Cristo. Isso significa que sua identidade principal não está em suas realizações, status ou posses, mas em ser filho de Deus.
  2. Reconhecimento da Pecaminosidade: os cristãos são encorajados a reconhecer sua natureza pecaminosa e a necessidade contínua de arrependimento e graça. Esse reconhecimento não deve levar à condenação própria, mas a uma dependência da misericórdia e do perdão de Deus.
  3. Valorização e Amor Próprio: embora reconheçam suas falhas, os cristãos são chamados a amar a si mesmos de maneira saudável, entendendo que são criados à imagem de Deus. Isso implica cuidar do corpo, da mente e do espírito, respeitando a dignidade que Deus lhes conferiu.
  4. Humildade e Serviço: a humildade é uma virtude central na visão cristã de si mesmo. Filipenses 2.3-4 exorta os cristãos a considerarem os outros superiores a si mesmos e a buscar não apenas seus próprios interesses, mas também os dos outros. Isso se traduz em uma vida de serviço e altruísmo, seguindo o exemplo de Cristo.
  5. Confiança e Esperança: os cristãos são incentivados a viverem com confiança e esperança, não em suas próprias forças, mas no poder de Deus. Essa confiança permite que enfrentem desafios com coragem e perseverança.
  6. Crescimento Contínuo: a vida cristã é vista como um processo contínuo de crescimento espiritual e transformação. Os cristãos são chamados a buscar continuamente um relacionamento mais profundo com Deus e a se tornarem mais semelhantes a Cristo, como abordado em Romanos 12.
  7. Comunidade e Relacionamentos: um cristão vê a si mesmo como parte do corpo de Cristo, a Igreja. Isso implica viver em comunidade, apoiando e sendo apoiado por outros crentes. A comunhão é essencial para o crescimento espiritual e para viver a fé de forma prática.
  8. Missão e Propósito: finalmente, os cristãos acreditam que têm um propósito e uma missão dados por Deus. Isso envolve compartilhar o amor de Deus e o Evangelho com os outros, vivendo de maneira que glorifique a Deus em tudo.

Em resumo, o olhar de um cristão sobre si mesmo é moderado entre humildade e confiança, reconhecimento da própria pecaminosidade e valorização da identidade em Cristo, e um compromisso contínuo com o crescimento espiritual e o serviço aos outros.

À luz disso, avalie sua vida, suas intenções, seu coração. Dê um passo, seja sincero consigo mesmo, coloque o que precisa ser colocado em seu devido lugar e busque viver uma vida de amor ao Senhor e ao próximo. Vem pra vida!

Como podemos te ajudar?